quinta-feira, 27 de novembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014



Cabeça de Pirâmide, o Robocop, Exterminador e outros versus zumbis!

 
Como assim não vão dropar munição?

terça-feira, 25 de novembro de 2014



TOC é a sigla para transtorno Obsessivo Compulsivo

Olhe as imagens: se sentir agonia, tenho más notícias para você...
 





























segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sangue de Lobo





Estava participando do NaNoWriMo, como vocês sabem, mas desisti faz tempo. Simplesmente perdi vontade de escrever e não costumo me obrigar a fazer nada, exceto obrigações cotidianas. O que eu estava escrevendo, também não me agradou nada e isso precipitou as coisas.

O caso é que eu acabei com mais de 5.700 palavras escritas à toa, daí que vou publicar aqui no Sucupiras semanalmente. Além de ficar mais fácil para quem interessar ler o que escrevi, vai me dar tampo de ir escrevendo um final para a história. Os primeiros seis capítulos já estão garantidos, daí temos um mês e meio para ver um caminho para essa história.

Abaixo, o primeiro capítulo de Sangue de Lobo


Parte 1 – O Monstro

Ele estava num ônibus indo pra casa. Tinha uma consciência terrível de tudo o que o cercava. Esse era o pior em morar numa cidade: informações demais. Morar no interior não era uma opção, já tentara isso algumas vezes, mas enquanto os humanos se acostumam às suas cercanias e não dão atenção à maior parte das coisas que passam por eles, o monstro simplesmente não podia ignorar nada, por mais que tentasse. Isso o deixava nervoso e enjoado, mas precisava andar de ônibus.

Ao menos estava sentado. Ficar de pé, em meio à toda aquela gente, seria horrível.

Ia ouvindo um metal bem alto para amortecer as sensações, mas a música o deixava levemente pronto para lutar. Era sensível à musica. Quando o artista era bom, conseguia passar o sentimento desejado para e ouvinte, e a criatura que mimetizava um humano, sentado num banca para deficientes e obesos de um ônibus articulado era especialmente receptivo à informações externas. Por isso não ouvia música clássica.

Não com frequência, ao menos.

Ele era atlético, mas não muito. Seus músculos eram incrivelmente duros, o que o tornava muito mais forte do que aparentava. Utilizava roupas que escondiam a musculatura e o faziam passar por um homem magro, de um metro e setenta. Quando alguém esbarrava com ele, o que só acontecia em ambientes superlotados, pensava que estava acertando algum osso de tão duros que eram seus braços. Os ossos eram como titânio e nunca havia quebrado um osso, mesmo tendo sido atingido de todas as formas que você possa imaginar e mais vezes do que ele mesmo poderia contar. Suas unhas cresciam muito rápido, bem como seus cabelos e barba, mas ao atingirem certo comprimento paravam de crescer. Era alguma trava genética que dizia algo como “OK, por aqui chega”. Quando alguém o feria, se recuperava muito rápido e mesmo cicatrizes eram praticamente imperceptíveis. Apenas os dentes eram um problema, pois ainda era vulnerável à carie, seus dentes se gastavam normalmente e mesmo já havia perdido dois molares quando um caçador o atingiu com uma pesada picareta na face esquerda.

De maneira geral, não parecia inumano. Imaginava que esse fenótipo era para poder andar melhor entre o rebanho humano. Só uma coisa o denunciava como o lobisomem que era, e essa coisa estava literalmente na cara. Seus olhos eram amarelos e em nada pareciam com os de uma pessoa qualquer. A maior parte das pessoas ainda assim não notavam, pois ele andava sempre de cabeça baixa à noite e de óculos escuros da manhã à tarde.

O homem-lobo ainda chamava atenção. Uma combinação de beleza rústica, vigor físico, graça nos movimentos, brilho dos cabelos e um feromônio que secretava no suor o tornava irresistível às mulheres e homens que gostavam de homens. Aliás, sabia que o órgão de Jacobson era funcional em humanos por experiência própria e usava esse conhecimento à seu favor há tempos.

Vez em quando um caçador o encontrava e tentava acabar com sua vida. Tentaram matá-lo de muitas formas diferentes e criativas. Sabiam de suas habilidades e de seus limites, mas não estavam nunca preparados para a extensão de sua capacidade de luta. Oportunidades demais o tornaram exímio combatente e sua força, resistência, velocidade e reflexos superiores lhe davam uma grande vantagem, mesmo contra grupos bem armados. Ainda assim, sua determinação era o que o levava além, impedindo-o se simplesmente deitar e morrer.

Achava sua vida sem propósito e maçante na maior parte do tempo. Haviam instintos terríveis que não combinavam com a existência entre humanos sempre ali, sempre presentes. Gostava do cheiro e do gosto de carniça, por exemplo. Olhando para alguém, podia se ver arrancando grandes pedaços de carne de seu pescoço à dentadas. Paradoxalmente, seus impulsos sexuais estavam sobcontrole. Nem ele saberia explicar por que.

De todos os muitos impulsos que precisava controlar, o pior e mais forte era o de meter porrada em todos os que o incomodavam. O problema era especialmente sério porque tudo e todos eram irritantes neste ou naquele nível. No ônibus mesmo, naquele momento mesmo, um fumante deixava o cheiro insuportável com o seu suor, o homem ao seu lado era tão esquálido que estaria melhor morto, atrás de si, há três assentos de distância, uma mulher falava imbecilidades no celular e quase todos no ônibus tinham vidas ridículas, repetindo as mesmas coisas que detestavam fazer dia a dia. Queria matar a todos. Poderia matar a todos. Isso o deixaria muito mais feliz. A vibração do motor do ônibus embrulhava seu estômago e o deixava tonto, mas sua fisiologia dificilmente o permitiria vomitar. Agora estava ouvindo Imbecil, do Matanza, e essa música sempre o deixava com vontade de matar, mas não podia desligar o player do celular, não com toda aquela gente vomitando futilidades numa torrente inteligível só pra ele. Melhor mudar de música.

Faltavam ainda muitos minutos para descer do ônibus e ele resolveu descer. Estava ficando louco. “Bem que podiam aparecer agora uns caçadores para gastar energia”, mas aí se lembrou da última vez. Sangue demais, corpos esquartejados para esconder, testemunhas foram também mortas e parcialmente devoradas. Enfim, foi uma merda. Teve de mudar de cidade. Precisava mudar de cidade constantemente. Isso era uma merda também.

Caminhando célere pela calçada, percebeu que passaria em frente à um Studio Fitness em que alguns jovens fortes estavam conversando acaloradamente. Comemoravam o recente título de um deles. Um título de MMA. Eram todos consideravelmente mais corpulentos que ele e queriam briga. O cheiro lhe dizia isso, mas havia sinais corporais que o indicavam para quem soubesse ler. Parou bem antes e atravessou a rua. Podia bater em todos eles com facilidade, seria divertido até, mas estava com muita raiva e não terminaria bem. O problema é que viram o magrelo cabeludo fazendo isso.

Começaram gritando ofensas. Chamavam-no de frango e de cabeludo gay, daí atravessaram a rua. Estava já puto da vida e resolveu esperar por eles. Parou de frente, os punhos fechados, cabeça baixa. Procurava se acalmar, contudo. Eu sua mente, já visualizava como se daria o combate. Seria assustadoramente rápido e doloroso pra eles. Foi cercado pela manada de rinocerontes e imediatamente o cheiro de testosterona encheu o ar. Percebeu que alguns transeuntes olhavam e não se importou. Continuavam falando e um deles pegou no seu cabelo. Estava estático até então, mas nesse momento fez um leve movimento abaixando mais a cabeça. Sentia nojo. Amanhã teria de se mudar de novo. Perceberam seu movimento. “Uuuuuu, ele quer brigar” disse um deles. “Vou guisar ele”, disse outro. Em sua mente, repetia que não precisava matar, mas estava já sentindo o calor lhe tomando o corpo. Não se transformava, como nos filmes, mas ficava muito mais forte e rápido quando isso acontecia. Sorte deles que não era lua cheia.

Socou o que estava à sua frente. Foi como se o retrovisor de um caminhão o tivesse acertado enquanto esperava sua vez de atravessar a rua, ainda na calçada, inesperadamente. Sentiu o osso se partir, mas era sempre assim, e a cabeça do homem açoitou pra trás com violência. Os danos no cérebro seriam piores. Antes que outros sequer percebessem completamente o acontecido, voltava o cotovelo do mesmo braço em direção ao peito do que estava atrás sem precisar olhar. Duas costelas estalaram. O homem começava a voar. Olhou a todos, que pareciam se mover em câmera lenta, enquanto dava um passo pra frente, escapando do alcance dos brutos. Parou, girou num pé enquanto o outro descrevia um belo e mortal arco no ar, explodindo no pescoço de um e dando um novo ângulo à articulação de um cotovelo na descendente. Um impulso maligno o fez agarrar os genitais do quinto homem ainda inteiro com a mão direita e o deixou dar todos os golpes que quis. Para o desespero de sua vítima, os socos não produziam qualquer efeito, nem mesmo retirava o sorriso da cara do monstro. O homem tentou retirar a mão que lhe apertava o escroto, mas descobriu ser impossível. À beira da morte, o homem disse “desculpa” e desmaiou. O coração da fera ribombava tão forte nos próprios ouvidos que não podia prestar atenção nas palavras, mas sabia que o coração do homem estava a ponto de desistir, daí soltou.

Alguém começou a dizer algo favorável a seu respeito, mas continuava sem entender as palavras. Quando estava nesse estado, só entendia as emoções, daí ouviu uma voz de mulher, angustiada. Vinha de perto daquele que teve o pescoço fraturado. De repente a mulher veio lhe bater, ainda que no íntimo soubesse ser um erro. Sem pensar muito no que fazia, deu um pisão simples no abdome da jovem, bem onde carregava a criança. Estava no início da gravidez e ela provavelmente não sabia o porquê dos enjoos ainda. E já não estava mais.

Saiu correndo.

Estava feliz de ter espancado aquelas pessoas, mas não estava pensando direito e agora aniquilara um humano não nascido. Se importava, mas pelos motivos errados, e queria fazer alguma coisa para desviar a mente do acontecido. Lutar sempre o deixava com tesão. Quando isso acontecia, precisava foder com força, mas uma mulher comum não poderia suportar o sexo com o monstro. Trepar com alguém que pode vencer um galgo na corrida sempre machucará e muito! Nesses casos, o monstro ligava pra uma profissional viciada em heroína. Depois do coito ficava imprestável por toda uma semana e carregaria cicatrizes pelo resto da vida, mas ao menos uma vez por mês respondia ao chamado. Ela era muito bem paga para ser possuída pelo lobisomem e o vício a obrigava a aproveitar qualquer chance de ter muito dinheiro de uma vez. E havia ainda a questão do feromônio. Ainda que doesse demais o tempo todo em que estivesse embaixo dele, ao terminar os impulsos animais irreprimíveis a fariam querer voltar outra vez. Ao ligar, ele só dizia “venha”. Sua voz inconfundível era tudo o que ela precisava saber do que se tratava.

Quando ela chegou, havia alguém com ela. Um homem. A voz da mulher tinha uma nota ansiosa imperceptível para um homem comum, mas não pra ele. Amaldiçoando a desgraçada por sua cobiça e frustrado por não ter o que esperava antes de se mudar, a fera abre a porta para lutar mais uma vez.

BLAM

O tiro o pegou de surpresa.